6.6.05

 
Abriu a porta e viu o amigo que há tanto não via. Estranhou apenas que ele, amigo, viesse acompanhado de um cão. O cão não era muito grande, no entanto bastante forte, de raça indefinida, saltitante e com um ar alegremente agressivo.

Abriu a porta e cumprimentou o amigo, com toda efusão:

- Há quanto tempo!.

O cão aproveitou as saudações e aventurou-se casa adentro... Não tardou e o barulho na cozinha demonstrava que ele tinha partido alguma coisa. O dono da casa franziu um pouco as sobrancelhas, o amigo visitante fez um ar de quem não tinha nada com o assunto.

- A última vez que nos vimos foi...
- Já nem eu me lembro...
- E tu, também casaste?

O cão passou pela sala, o tempo passou pela conversa, o cão entrou pelo quarto e mais uma vez um barulho de coisas partidas. Houve um sorriso amarelo por parte do dono da casa, mas perfeita indiferença por parte do visitante.

- Quem morreu foi o Juca... Ainda te lembras dele?
- Lembro-me, coitado...

O cão saltou sobre um móvel, derrubou o candeeiro, trepou com as patas sujas no sofá (o tempo passava) e deixou lá as marcas digitais da sua animalidade. Os dois amigos, tensos, agora preferiam não tomar conhecimento do dog.

E, por fim, o visitante foi-se embora. Despediu-se, efusivo como chegara, e foi-se.

Mas ainda ia a sair quando o dono da casa perguntou:

- Não vais levar o teu cão?
- Cão? Cão? Ah, não! Não é meu. Quando eu entrei, ele entrou naturalmente comigo e eu pensei que fosse teu. Não é teu?

Moral da história: Quando notamos certos defeitos nos amigos, devemos sempre ter uma conversa esclarecedora.


Adaptação de um texto de Millôr Fernandes

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